GT 05 – História Pública e Documentário


GT 05 – História Pública e Documentário

 

Coordenadores:
Ana Carolina de Moura Maciel (UFF)
Mathias Assunção (UFF)
Monica Kornis (FGV)

 

O documentário e a verdade histórica: questões para debate

Mônica Almeida Kornis – CPDOC/FGV

[email protected]

A idéia deste trabalho é tratar sobre algumas questões referentes à linguagem do documentário do ponto de vista de suas estratégias de construção de uma “verdade” para o grande público, com atenção especial para os documentários brasileiros sobre o regime militar.

 

Imagens de arquivo em audiovisuais

Julio Wainer – PUC/SP

[email protected]

As imagens de arquivo (fotos, filmes, vídeos, etc) aparecem e são localizados em volume crescente. No campo da produção fílmica, identificamos dois caminhos que podem assumir: ora são agregadas em narrativas documentais, ora aguardam por indexação e por alguém que lhes dê sentido narrativo. Dos primeiros, muitos transformam-se em documentos públicos e entram para a história do cinema brasileiro. Os filmes Os anos JK (1980) e Jango (1984), ambos de Silvio Tendler e o recente O Dia que virou 21 Anos (2013), de Camilo Tavares, são exemplos dessa tendência. Algumas imagens se tornaram verdadeiros cânones e são usadas repetidamente, como as tropas a cavalo que perseguem manifestantes, ou estes alinhados contra uma parede iluminados por holofote da polícia. A maior parte das imagens de arquivo, no entanto, aguarda indexação. São incontáveis fotos em papel, alguns arquivos em película (16 mm, super 8) e em vídeo (VHS, outros) que aguardam sentido histórico ou simplesmente narrativo. É o que propõe Marcelo Masagão com Nós que aqui estamos por vós esperamos (1999) ou Zelig (Woody Allen, 1983) ao associar imagens antigas a histórias possíveis. Cada um dos caminhos implica em problemas. Sobre montagem de documentários, Eduardo Escorel (2010), montador e blogueiro, fala em quatro formas do diretor/montador encarar o arquivo: arbitrária, ingênua, que recusa as imagens, que questiona as imagens. Os arquivos que aguardam indexação envelhecem e correm o risco de perder conexão com os fatos históricos a que dizem respeito. Mas ganham, dependendo da liberdade que se tem no seu trato, em capacidade de se fabular sobre elas, de se criar histórias verossímeis ainda que não verdadeiras. De qualquer jeito, é uma incógnita o que acontecerá com as imagens de arquivo recentes, que raramente viram papel ou outro suporte duradouro, permanecendo em HD e celulares até que sejam deletadas. A comunicação no simpósio de história pública irá discorrer sobre os caminhos das imagens de arquivo para uso em audiovisuais. Abordará também, da parte do espectador, a exigência de leitura de diferentes camadas da história em filmes e eventos audiovisuais recentes, como a reedição em 2014 do filme Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho, 1984).

 

No caminho das imagens: os filmes de família dentro

Thais Continentino Blank – UFRJ

[email protected]

O gesto de apropriação de imagens preexistentes não é novo na história da arte. As práticas mais diversas de citação, deslocamento, montagem e colagem são exercidas pelo menos desde as vanguardas artísticas do início do século XX. No entanto, na última década, notamos um grande aumento no volume de produções audiovisuais que possuem como recurso central a retomada de imagens produzidas para outros fins. Imagens de câmera de segurança, filmes amadores e familiares, industriais e publicitários, antigos programas de TV, materiais de diferentes procedências e formatos se encontram em uma produção heterogênea que atravessa o campo da arte e do entretenimento audiovisual. Diante dessa gigantesca onda do arquivo, que inunda as salas de cinema, os museus e os programas de televisão, alguns pesquisadores afirmam a necessidade de recuperarmos a origem das imagens. Este é o caso da historiadora francesa Sylvie Lindeperg, que nos últimos dez anos vem trabalhando no sentido de reconquistar a historicidade do momento da tomada e de revelar as condições de realização das imagens da Segunda Guerra Mundial retomadas dentro das mais diversas produções audiovisuais. Esta comunicação se inspira no método de pesquisa de Lindeperg e propõe traçar um caminho que parte da obra acabada em direção ao arquivo, um esforço de enxergar as transformações ocorridas no interior das imagens ao longo das migrações no tempo e no espaço. Nossa pesquisa se debruça sobre o documentário Babás (2010), de Consuelo Lins. O curta-metragem costura elementos autobiográficos, filmes familiares, entrevistas e documentos vindos de diferentes arquivos para elaborar uma reflexão sobre o papel das babás no cotidiano das famílias brasileiras. Neste trabalho propomos refazer o percurso traçado pelos filmes domésticos pertencentes às famílias Mattos e Sampaio. Estes filmes foram realizados nas primeiras décadas do século XX, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e retomados por Consuelo Lins mais de setenta anos depois. Produzidas por famílias diferentes, as tomadas usadas na obra compartilham uma trajetória semelhante: nasceram no universo privado e foram deslocadas para o espaço público, onde perderam ou ganharam novas camadas de sentido pelas mãos da cineasta. A reconstituição da longa trajetória percorrida pelos filmes familaires não visa desvalorizar o papel do artista em nome de uma “verdadeira origem” das imagens, muito pelo contrário, esta jornada tem como princípio de base a noção de que “as imagens de arquivo não devem ser entendidas como prova factual da história, mas como documentos em constante devir” (LINDEPER, 2005; 151), e que os múltiplos usos e olhares portados sobre elas são sintomas de uma época.

 

Santo Nombre (memoria, patrimonio e identidad de un pueblo.)

Guillermo Cabrera Vidal – Benemerita Universidad Autónoma de Puebla

[email protected]

El presente trabajo comprende un nuevo modo de trabajo para los historiadores, a lo menos en México, “la Historia Publica”, misma que se ha encargado de transmitir un sentido de cuestión a la disciplina, colocar los contextos en un campo más amplio y como es que en realidad los historiadores la practican, deduciendo que para entender las formas en que funciona la Historia Publica, debemos entender que es una disciplina académica y cual es el origen prístino de la misma para su desarrollo con la sociedad. Es por medio de la Historia Publica que abordo mi trabajo; aunque la historia publica abarca muchos campos por los cuales se pueden lograr la difusión y divulgación de la historia, es por medio del documental por el cual trabajare; sabemos de antemano que en un documental no se pueden abordar en su totalidad conceptos fundamentales por los cuales se desarrolla el proyecto, como lo son: la memoria, la identidad y el patrimonio, a lo que este documental ira acompañado de un trabajo escrito (investigación), no olvidemos que uno de los fines básicos del historiador es la escritura. Los medios masivos juegan desde siglo XX un papel de vital importancia, con el control de masas o juzgando figuras, ideologías, etc., más sin embargo el documental también puede estar permeado por ciertos tipos de control; es donde la función del historiador en los medios masivos es servir de guía, y aplico este adjetivo porque cualquiera puede acceder a la información y adquirir el papel de semidiós con cualquier aparato de comunicación, el problemas es que solo se esta creando una des-identidad de los individuos, producto de la globalización, con fines de control de masas, el historiador y su función social es necesariamente indispensable y es él, quien debe tener una responsabilidad al adjudicar un significado del pasado en base a reflexiones y ejemplificaciones descritas en forma contextualizada del propio pasado histórico de los individuos y que la sociedad debe juzgar bajo sus realidades actuales y experiencias vivenciales, restableciendo así su propio pasado. Es del historiador el compromiso social y ético con el que establece una correlación en sociedad a donde finalmente pertenece. Es en el proyecto donde se vera reflejado el fin de estos argumentos, la zona ejidal es Santo Nombre, y la zona arqueológica es Teteles, ubicada en Tlacotepec de B. J., Puebla, es de reciente descubrimiento, la cual esta sometida bajo problemáticas como: memoria, identidad y patrimonio, así como problemas jurisdiccionales de propiedad de la nación.

 

A narrativa interpretativa sobre os documentários do Concurso História de Bairros de São Paulo.

Viviane Pedroso Domingues Cardoso – USP

[email protected]

Este trabalho é parte dos resultados da pesquisa de mestrado “Uma cidade, várias narrativas” sobre o Concurso História de Bairros de São Paulo, que foi promovido pela Secretaria Municipal de Cultura. O Concurso, que nas primeiras décadas teve como produto monografias, desde 2005 vem se apresentando no formato de documentários com cerca de 24 minutos cada.
Esses documentários foram desenvolvidos inicialmente em co-parceria com a Secretaria Municipal de Educação e distribuídos nas escolas públicas municipais. Também foram veiculados na televisão e em festivais alternativos de cinema. Buscamos identificar as narrativas históricas que se fazem presentes nesses documentários, bem como os interesses em investir parte substancial dos recursos da Ecine (Agencia de Cinema do município) em documentários de história.

 

A Grande Guerra na visão oficial da BBC, 1964: Equívocos e omissões na história política e econômica
Sylvia Ewel Lenz – Universidade Estatual de Londrina
[email protected]

Em contraposição à “versão oficial” apresentada pelos documentários da BBC – British Boardcasting Corporation, serviço de comunicações do governo do Reino Unido, a publicação em Youtube de filmagens coevas, como o cotidiano famélico nos impérios centrais, revela imagens inéditas. Este é um outro lado do conflito: não focado no político e diplomático, mas sim no socioeconômico. A série de documentários da BBC sobre a Guerra de 1914, realizada por ocasião dos 50 anos da deflagração do conflito, ou seja, em 1964, começa com a constatação de que o embate significou o fim dos impérios, sem, no entanto, especificar quais. De fato, os Impérios Centrais foram fragmentados ou sofreram grande redução territorial, como a Alemanha. Enquanto o austro-húngaro foi dividido em diferentes territórios – austríaco, húngaro e diversas nações eslavas -, o Império Otomano foi reduzido à Anatólia. Afinal, Reino Unido e França a realizaram a partilha do Oriente Médio no território árabe, até então, sob domínio turco e que se estendia da costa oeste do mar Mediterrâneo à Pérsia, atual Irã. É sintomática a omissão de fatos, cujas consequências nefastas permanecem um século depois, principalmente no caso do Iraque. Como a questão geopolítica envolvida na mudança da matriz energética dos transportes marítimos nesse período, que deixaram de ser movidos a vapor, tendo o carvão como combustível, para serem propulsados por motores a combustão, utilizando o petróleo – fundamental no mundo contemporâneo, abundante no Oriente Médio. Outra questão omitida: o bloqueio naval imposto pela Royal Navy aos portos alemães e mesmo em países neutros, para impedir a importação de matérias primas, inclusive de alimentos, assim como a exportação dos produtos industriais da Alemanha e Áustria-Hungria. Este embargo visou arruinar a economia de nações adversárias; porém, provocou a morte por inanição de inúmeros civis alemães, austríacos, húngaros, eslavos e italianos. Não obstante, os documentários, elaborados na perspectiva do vencedor, utilizando imagens impactantes sobre o conflito, músicas de fundo, o tom de voz do narrador, assim como a própria estrutura narrativa, visam a consternar o expectador e tornar esta História Pública aparentemente mais verossímil do que outras notícias, fotos ou filmes patrióticos dos demais países contendores. Nesse sentido, a série de documentários respaldada pela chancelaria da marca BBC, ou seja, do governo do Reino Unido, é considerado, pelo público televisivo como a fonte fidedigna da história do período, ponto sobre o qual propomos a nossa análise crítica.