GT 13 – História Pública, jornalismo e rádio


GT 13 – História Pública, jornalismo e rádio

 

Coordenadores:
Graziela Mello Vianna (UFMG)
Joëlle Rouchou (Fundação Casa de Rui Barbosa)
Lia Calabre (Casa de Rui Barbosa)
Luiz Otávio Correa (PUC-MG)
Sonia Vanderlei (UERJ)
Sonia Meneses (URCA/CE)

 

Jornalismo e história pública: ciência, pesquisa e divulgação

Alice Mitika Koshiyama – USP

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O jornalismo surge hoje como um meio de construção de uma história pública. Nesse processo temos a participação de diversos personagens. Seja como pesquisadores científicos da história com o uso das teorias e métodos que caracterizam esse campo de trabalho. Seja no jornalismo científico que traduz as pesquisas para o conhecimento de outros especialistas, nas publicações interdisciplinares. E a ação de jornalistas que escrevem textos e livros a partir da leitura de obras elaboradas a partir de uma bibliografia eclética, envolvendo desde documentos primários até teses originais do campo acadêmico. O jornalismo atual que se constitue pela convergência dos mídia oferece a possibilidade de uso de meios impressos, digitais, audiovisuais e de mídias interativas. A história se legitima como um campo de exercício intelectual com várias possilidades fora da academia. Paradoxalmente, torna-se cada vez mais necessário desenvolver o trabalho da pesquisa e do ensino da história em todos os níveis para formar um cidadão capaz de atuar em um estado democrático de direito. O conhecimento de como se faz e se veicula história deixou de ser um problema apenas de especialistas, pois é imprescindível esclarecer, para toda a população do país, as relações entre cultura, memória e história. Um signo positivo desta época são os sites de busca na internet, a ação de pesquisadores renomados que se dispuseram e se si dispõem a conversar com o público sobre os seus trabalhos, e que escrevem ou traduzem para uma linguagem acessível suas descobertas. Lembramos do trabalho de Jacques Le Goff, Robert Darton, Carlo Guinsburg e Fábio Koifmann conversando sobre temas que pesquisaram. E verificamos quanto é necessária a história pública, quando analisamos a publicização das memórias e história da ditadura de 1964, seja em pesquisas acadêmicas, seja em reportagens e artigos, nas memórias, nos textos de ficção. E é bastante salutar observar que pesquisadores e professores comparecem em diferentes meios de comunicação para apresentar em textos acessíveis os resultados de seus estudos acadêmicos. Também notamos jornalistas que se apoderam dos métodos e técnicas de trabalho da história para escrever seus textos, seja em reportagens (Chico Otávio), seja em obras sobre personagens ou temas da história recente (Mário Magalhães, Leonêncio Nessa).

 

A produção de documentos históricos através de sons

Luiz Otávio Correa – Faculdades Promove

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Esta pesquisa levanta a possibilidade da produção de documentos históricos através de uma escrita sonora, alargando os espaços de recepção tradicionais da História. De maneira experimental, propõe-se a construção de arquivos sonoros que se traduzam no alargamento dos estudos sobre os mais variados temas, através da edição de sons, músicas, depoimentos e pesquisas disponibilizadas em vários suportes na internet, em arquivos públicos e de rádios. Neste trabalho, especificamente, tratou-se como objeto de pesquisa o próprio rádio. Este tema tem sido relativamente bem explorado e a pesquisa está avançada, seja a feita por comunicólogos interessados na evolução deste meio de comunicação, seja a feita por historiadores, interessados na produção da identidade nacional, através deste meio de comunicação. Nosso desafio é criar um produto sonoro que possa ser veiculado em vários canais midiáticos, dialogando com esta vasta produção e abrindo espaço para o conhecimento sobre esta nova forma de se fazer História. Desta maneira, procurou recolher alguns fragmentos de programas de rádio, como os disponibilizados pela Rádio Nacional e por outras que, amarrados com depoimentos de vários agentes, contribuíram para a produção de uma memória do rádio e do significado da cultura brasileira. Por outro lado, recolheu-se também a fala de pesquisadores que trabalharam com a História do Rádio, principalmente aqueles que deram um enfoque mais histórico-cultural ao tema. A pesquisa do formato do produto ainda está na sua fase embrionária e os arquivos estarão disponibilizados em redes sociais.

 

As “Marchas de Junho” e as manifestações “Fora Collor”: O papel da imprensa na construção de sentidos históricos no tempo presente.

Sônia Maria de Meneses Silva – URCA

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Esta pesquisa realiza um estudo comparativo sobre as coberturas das manifestações populares nos anos de 1992, ano do Impeachment de Fernando Collor de Melo e as mobilizações de junho de 2013. O objetivo principal é compreender as formulações de sentidos elaboradas pelos meios de comunicação, especialmente, a imprensa e as leituras sobre os acontecimentos históricos nesses veículos. Aqui serão abordadas as coberturas de dois importantes representantes da grande mídia brasileira: o jornal Folha de São Paulo e a revista Veja. Procura-se destacar as várias faces da produção do acontecimento na cena pública, as referências ao passado, os jogos de memória e esquecimento na construção histórico/midiática, tomada aqui como uma complexa operação. Assim, 1992 e 2013 são anos singulares para essa reflexão, sobretudo, porque reúnem um conjunto de situações que os inserem como marcos para memória histórica do país. São significativos porque conduzem ao debate sobre temas que, por sua vez, afetaram e, continuam afetando, nossos horizontes de expectativas e estimularam rupturas significativas em nosso “espaço de experiência”. Essas ocorrências impulsionaram novas demandas de sentido na medida em que instauraram uma quebra na trama dos “nossos hábitos, de nossas rotinas diárias”. Desta maneira, as manifestações desencadeadas naqueles anos, assim como, suas narrativa cotidianas nos colocam diante das dimensões públicas da história no tempo presente marcada especialmente pelo imediatismo das elaborações, a diversidade de sujeitos como narradores da história e a atuação dos meios de comunicação como formuladores de acontecimentos e artefatos históricos.

 

Industrialização, desenvolvimento e petróleo: o debate sobre a criação da Petrobrás e as alternativas para o desenvolvimento na imprensa “liberal” carioca no Segundo Governo Vargas

Luis Carlos dos Passos Martins – PUC/RS

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Esta comunicação procura avaliar como os principais jornais cariocas considerados pela historiografia como “liberais” se posicionaram frente ao processo de criação da Petrobrás (1951-1953) durante o Segundo Governo Vargas. Tal tema é pertinente porque, afora a enorme controversa que se deu em torno da questão do petróleo, tal processo esteve diretamente ligado à controvérsia sobre o principal caminho para o desenvolvimento brasileiro no período, a saber: qual seria o papel relativo do Estado e do capital privado estrangeiro no mesmo. Essa controvérsia opôs grupos considerados “liberais” ou “entreguistas” aos grupos chamados de “nacionalistas” e/ou nacional-desenvolvimentistas e a historiografia especializada tradicionalmente posiciona a grande imprensa carioca ao lado dos “liberais”, ou seja, defendendo um programa do petróleo e um projeto de desenvolvimento baseados fundamentalmente no aporte do capital privado “alienígena”, contrariando a alternativa “nacionalista” e/ou nacional-desenvolvimentista proposta por Vargas. O objetivo desse trabalho será demonstrar que, ao contrário dessa visão estabelecida, a maior parte dessa imprensa tida como “liberal” (O Globo, Jornal do Brasil, O Jornal, Correio da Manhã) não apenas deu apoio à proposta inicial da Petrobrás – que estava longe de ser nacionalista – como também recebeu positivamente a maioria dos programas do governo voltados para a industrialização acelerada e o desenvolvimento econômico nacional. Em outras palavras, ao invés de estar preso aos cânones da ortodoxia que defendia o recuo dos investimentos estatais e a diminuição do protecionismo e da intervenção do Estado na economia, boa parte desses jornais advogou a favor de investimentos públicos no setor de energia, do controle do fluxo de capital estrangeiro e do aceleramento da industrialização, mesmo que com base no aumento de tarifas alfandegárias e no subsídio à indústria nacional. O estudo do caso do petróleo, por toda a sua relevância, oferece uma pertinente oportunidade para estudar tais temas, a posição doutrinárias dos jornais frente à questão do desenvolvimento e diante do próprio governo Vargas.

 

O Rádio Público no Brasil em busca de um modelo pela programação: transformações históricas contemporâneas das rádios Nacional e MEC do Rio de Janeiro.

Valci Regina Mousquer Zuculoto – UFSC/UFRJ

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Este artigo propõe apresentar os mais recentes resultados e reflexões de pesquisas sobre a constituição histórica do Rádio Público brasileiro, recortadas no grupo das educativas, estatais, culturais e universitárias. Emissoras que até a década de 90 integravam o sistema educativo. Especificamente, pretende evidenciar a história contemporânea de emissoras estatais/públicas vinculadas à EBC – Empresa Brasil de Comunicação, em especial das rádios Nacional e MEC do Rio Janeiro, com foco nas programações. Desde que passaram a se autoproclamar públicas e a criação da EBC, vêm operando em busca de um modelo público de rádio. Com quase 80 anos de história, esse segmento da radiofonia brasileira não comercial já soma perto de mil estações. Em pesquisa de doutorado, concluída em 2010, recuperamos a trajetória histórica das suas programações, do marco inicial do sistema educativo, com a Rádio MEC do Rio de Janeiro, até o começo dos anos 2000, fase da fundação da Arpub – Associação de Rádios Públicas do Brasil e da EBC, esta com expressa disposição de constituir o sistema público. Observamos que o modelo brasileiro de rádio público, ainda em construção, além de emaranhado com o estatal, vem moldando-se via programação. Em seguimento a este estudo de resgate, focamos nossos estudos mais recentes nas rádios detectadas referenciais e vinculadas à EBC e/ou também à Arpub. Investigamos como buscam, nas fases atuais, consolidar programações de modo a cumprirem seu autodeclarado papel de emissoras públicas. Dentro desta investigação maior, recortada em emissoras referenciais, uma das pesquisas em andamento é sobre O jornalismo da Rádio Nacional do Rio de Janeiro – a história da fase pós Era de Ouro até a atualidade, em realização como pós doutoramento na ECO UFRJ. A Nacional, embora estatal desde 1940, paradoxalmente foi a rádio padrão do modelo comercial brasileiro, o que se tornou hegemônico na nossa radiofonia. Pós Era de Ouro, da mesma forma que todo o rádio, entra em declínio e amarga um longo ocaso. A partir dos anos 2000, assume sua natureza estatal pública inserida na EBC e junto com a MEC, passa por transformações determinantes. Na atualidade, além de trocas de programações, as duas emissoras lideram, em conjunto, experiências inéditas de redes públicas, como nas eleições de 2010 e Copa do Mundo deste ano. Mais recentemente, ambas tiveram que desocupar suas sedes históricas. Passaram a funcionar juntas num mesmo endereço, na EBC RJ, com suas redações e produções inclusive dividindo um único espaço.

 

 

Paisagens sonoras de Belo Horizonte: um percurso histórico pelas transformações da paisagem urbana no século XX

Graziela Valadares Gomes de Mello Vianna – UFMG

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O trabalho que propomos apresenta resultados da nossa pesquisa que observa a paisagem sonora urbana de Belo Horizonte em transformação, a partir do relato de ouvintes-cronistas-flanêurs (descrita em textos literários ao longo do sec.XX) e de depoimentos dos seus habitantes. Apresentamos ainda produções sonoras que realizamos (radionovelas, radiodocumentários e percursos sonoros), veiculadas na Rádio UFMG Educativa, que fazem uso de tais depoimentos e de sons que constituem a paisagem sonora da cidade. Sons esses presentes nos textos e na memória afetiva daqueles que a habitam.

 

José Veríssimo e a figura do intelectual público – Embates das letras e da política nas páginas do Correio da Manhã

Andréa Cristiana Santos e Rachel Bertol – UFRJ

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José Veríssimo (1857-1916) comandou pela imprensa a crítica literária do Brasil nos anos 1910, foi o maior intérprete de Machado de Assis em sua época e principal mestre e interlocutor de Euclides da Cunha e Lima Barreto, autores com reconhecida produção estética e social. Foi professor, militou pela educação pública e por propostas libertárias de ensino básico e superior. O artigo mostra como Veríssimo se constitui como intelectual público a partir de sua colaboração no Correio da Manhã, do qual foi o primeiro crítico – a partir da sua 18ª edição, em 1901, até início de 1903 –, e qual o seu legado pioneiro, que se fará presente na obra de outros profissionais. Nos anos 1940, Álvaro Lins destacou-se como um dos principais críticos literários no país, também pelas páginas do Correio da Manhã, e seu principal modelo no Brasil foi o de Veríssimo, considerado o mais literário dos críticos de seu tempo. Veríssimo colaborava para diversos outros periódicos, especialmente para o Jornal do Commercio, além do Correio, mas o objetivo deste artigo é mostrar como o autor se posiciona publicamente no veículo que, desde sua primeira semana, firmou-se como ferrenho opositor ao governo Campos Salles, pondo em xeque a forma como a imprensa lidava com os poderes estabelecidos. O artigo procura demonstrar as principais ideias difundidas por Veríssimo, numa época em que a crítica literária ainda não se constituía meramente como atividade especializada e delimitada à produção dita literária. As suas ideias opunham-se às do sociologismo puro da crítica de Silvio Romero, detrator de Machado de Assis e do próprio Veríssimo, o qual reuniu em torno de si o grupo de intelectuais fundadores da Academia Brasileira de Letras. O trabalho também mostrará a contribuição do autor para discutir os diversos problemas relacionados à educação e aos índices de leitura no país. Desse modo, destaca-se a importância de utilizar o jornal como fonte para difundir conhecimento histórico e a relevância desses estudos para fortalecer o campo da pesquisa em história pública.